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DESCASCANDO A BALA

domingo, 17 de janeiro de 2010
Esse texto eu copiei do blog dois em cena, gostei tanto que resolvi postar aqui.


Parece um detalhe minúsculo diante da grandiosidade do fato histórico que
acabamos de presenciar, mas eu começo meu texto falando em quem? Nele, no
Presidente Lula. Para ressaltar o que acho ser o vale profundo que separa
nossos países.

Lula descasca uma bala, Obama a desembrulha. Lula joga o papel no chão e
acha isso perfeitamente natural; insiste que no mundo todo isso nem seria
notado. Obama, caso aceitasse comer uma bala durante solenidade oficial,
poria o papel no bolso até poder jogá-lo numa lixeira. É um detalhe? É, mas
daqueles fundamentais, como o sorriso da Mona Lisa: em toda a tela de da
Vinci, quanta beleza, quanto talento, quantos simbolismos. Mas o que mais
chama atenção? O pequeno detalhe do sorriso.

Obama foi eleito presidente dos EUA e não do mundo. Seu interesse primeiro
é seu país e o povo americano. Problemas internos, muito sérios, não lhe vão
faltar. Mas, pela primeira vez na história daquele país, foi eleito um homem
mestiço, filho de um queniano e de uma jovem do Kansas, que passou parte da
infância entre o Havaí e a Indonésia, teve oportunidade de conviver com
crianças e jovens de outras nacionalidades, de conhecer outras religiões e
filosofias, e que por mérito e esforço próprios cursou boas universidades na
Costa Leste. Isso o diferencia de todos os outros presidentes americanos..

Sobretudo o diferencia de George W. Bush, rapaz muito rico, mas que até
ser presidente da República nunca tinha ido além do México. E assim mesmo
porque era muito perto de sua casa, talvez até considerasse aquele país a
continuação de seu quintal.

A eleição foi uma festa, uma linda festa que congregou, e aí está sua
maior beleza, a grande maioria dos americanos e não somente os brancos,
anglo-saxões e protestantes. Os EUA celebraram aquilo que já deveria ter
sido celebrado desde o fim da Guerra Civil, desde que imigrantes começaram a
desembarcar de navios abarrotados de gente no porto de Nova York. Finalmente
ouviram a voz da Estátua da Liberdade e responderam aos agourentos que
achavam aquela grande nação à beira do desaparecimento. Como disse o
presidente-eleito na noite de sua vitória: "Foi a resposta dada pelos jovens
e velhos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos,
latinos, asiáticos, índios, homos, heteros, inválidos e não inválidos -
somos e sempre seremos, os Estados Unidos da América".

Barack Obama viu mais longe que os outros; não podemos desmerecer a luta e
o sacrifício pessoal de Lincoln, de Martin Luther King, de Rosa Parks, dos
meninos de Little Rock. Mas Obama viu que o que uniria o país era a força de
seu "melting pot" em potencial, e não o ódio, não a vingança, não o punho
cerrado, mas o abraço.

Pode ser que ele não consiga realizar o sonho das multidões que vibravam e
choravam na noite de 4 para 5 de novembro. Seja como for, ele abriu a porta,
derrubou barreiras, rasgou a picada, deu os primeiros passos. Torcida não
lhe vai faltar.

Enquanto isso, no Brasil, o Chefe da Nação não diz duas palavras sem
atiçar o fogo, sem jogar brancos contra negros, pobres contra ricos,
instruídos contra iletrados, nordestinos contra sulistas, partidos contra
partidos, povo contra a Imprensa, todos contra todos. Não fala, grita,
berra. Esfalfado, ouve os uivos da platéia, acha que está sendo adorado, e
parte para outro palanque.

Criou um Ministério da Integração Racial que é tudo que nós menos
precisamos. Seu titular teve a idéia de criar a Delegacia do Negro!
Se um negro é assaltado, ele vai procurar a delegacia dele, não uma
delegacia qualquer... Breve, delegacias para japoneses, coreanos,
chineses... e o nome disso é Integração Racial.

"Espero que Obama (...) não vá gastar um ano sem resolver imediatamente a
crise. Agora a crise pode ser debitada ao atual governo, mas um ano depois
de ele tomar posse é dele também", disse Lula. Quer dizer, o Obama não pode
apelar para a herança maldita do Bush! E ainda: "Acho que ele é
suficientemente inteligente para tomar as medidas para evitar que a crise
continue".

Pode deixar, Lula, Obama é brilhante. Peça ao Amorim para ler consigo o
site que ele inaugurou logo no dia 5, Change.gov. Vá direto à política
externa. É de chorar de emoção. Depois, leia todo o site e aprenda como se
faz política respeitando o povo, o eleitor, o cidadão. O dado concreto,
Lula, é que Change. gov é extraordinário!

As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender!

Paulinho da Viola


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