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MENOS? NUNCA

sexta-feira, 16 de abril de 2010
Do que falar hoje? Não sei.

Da guerra entre traficantes no Rio? Da batalha desta madrugada no Morro do Alemão, com dois mortos? Ou do tiroteio no morro do Cantagalo, aquela favela que o Lula e o Cabral empinam como se fosse um cartaz do tal Brasil Pronto? Está tão pronto que encontraram na Unidade Pacificadora quatro granadas e alguma munição!

Do tiroteio em São Paulo, um assalto em joalheria em um lugar muito movimentado, com a desfaçatez e a calma com que agem os grandes criminosos? Mais mortos e feridos. E medo, muito medo.

Do descarrilamento de um trem hoje, aqui no Rio, por volta de 6h: 10 da manhã, na hora de maior movimento, indo da Zona Oeste para a Central do Brasil? Um trem que normalmente anda apinhado, tombado perto da estação de Deodoro, as imagens na TV mostrando pessoas caminhando pelos trilhos, sem notícias precisas sobre possíveis vítimas? Ouso dizer, prováveis vítimas?

Há bombeiros e equipes médicas e de resgate. Não está faltando atendimento, mas sobra uma positiva e arriscada desobediência civil: em vez de se afastarem do local, as pessoas não querem sair dali para poder falar com a reportagem e exaltadas mostrar o horror que vivem no dia a dia, as condições tenebrosas em que viajam, diariamente, para poder ir trabalhar e depois do trabalho voltar a enfrentar o mesmo roteiro inseguro?

Na verdade, o pobre brasileiro é um herói. Ele sai muito cedo para poder ganhar a vida; no intervalo do almoço, come o que pode, no tempo curto que tem; enfrenta o mesmo horror da vinda para voltar para casa. Bate pique lá, janta, dorme, acorda e recomeça tudo outra vez. Não mora bem. Suas casas são precárias. Os bairros são inseguros, os bandidos mandam e desmandam.

Mas o romantismo fez com que acreditemos que a vida dos pobres é muito mais feliz. Que dinheiro não traz felicidade. É verdade. Não traz, nem felicidade, nem saúde. Mas a pobreza também não traz felicidade e, na maioria das vezes, traz doenças.

Morar no morro não é nem bonito nem glorioso. O carioca fez com o samba um hino à estupidez: “tu pisavas nos astros distraída”, como foi lembrado aqui numa ode ao Rio, pode ser um lindo verso, mas é só o seguinte: a moça pisava no chão de terra batida salpicado de estrelas formadas pela luz da lua que passava pelos buracos no telhado de zinco. Por onde também passam morcegos e água!

Morar em bairros distantes, sem condução farta e sem os requisitos mínimos para uma vida civilizada: água encanada, esgoto, escolas, transporte seguro e farto, atendimento médico, segurança para todos, também não é nada bonito.

Noutro dia, depois da tragédia do Morro do Bumba, eu vi, na TV, o que nunca esperei ver: a comprovação de uma letra de um samba de meu pai. Um rapaz virou-se para o repórter e disse: “filma as minhas costas”. Era sua mochila. “Minha mudança está toda aí”.

Em “Despejo na Favela”, o morador, conformado, diz para o oficial de Justiça que lhe mostra a ordem de despejo: “Não tem nada não seu doutor, vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator. Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo, de qualquer jeito me ajeito. Depois, o que eu tenho é tão pouco, minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás”. É letra de 1969.

Agora, a tragédia ainda latente, falam em remoção, se necessário à força. Não há quem possa ser contra a retirada de pessoas de locais que a qualquer momento podem desabar e matá-las. Têm que ser retiradas. Mas para serem levadas para onde? De que forma, com quais garantias de que o mais breve possível encontrarão casas decentes e seguras, com transporte de qualidade e perto de suas casas?

Quem vai nos convencer que mais vale um Trem Bala entre Campinas e Rio de Janeiro, do que renovar as linhas férreas que servem a população carioca?

Quem vai nos convencer que deixar crescer uma favela em cima de um lixão, urbanizar a área, construir uma delegacia ali e uma escola e cobrar IPTU é sensato, é boa administração, é humano?

Trouxe esse artigo do blog do Noblat foi enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Quem vai nos convencer que este país está pronto?

Pronto?

Bem se vê que o Primeiro Turista só vê dos países aonde vai os salões dos palácios e das embaixadas. Das ruas, mal sai do Aerolula, entra naqueles carros tão blindados e escuros que com certeza ele pensa que no exterior é sempre noite, ele não vê o que é um país pronto. Nunca viu.

Tanto é assim que agora vai construir uma usina na marra... Se o Brasil estivesse pronto, o presidente da República não faria nada sem aprovação do Legislativo, do Judiciário, do TCU, do Ibama, das Universidades que se debruçam sobre o problema.

Não sei se o Brasil Pode Mais. Não sei mesmo. Mas Menos é que não pode. De jeito nenhum.

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